sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Projeto Mandala

Projeto Mandala, um oásis no Sertão dos Inhamuns

A mandala é um símbolo universal, cultuado desde a antiguidade. É a palavra para “círculo mágico” em sânscrito (antiga língua indiana), e simboliza a totalidade. Coincidentemente está presente na simplicidade de uma margarida às complexidades da íris dos olhos, na impressão digital, nas conchas do mar e até mesmo nas sementes de frutas como o kiwi. Tem o dom de nos levar ao centro de muitas coisas.
Através da mandala, uma representação mística que transmite a ideia de irradiação a partir de um ponto central, é possível despertar a intuição e direcionar uma energia para determinado objetivo, estabelecendo assim, um caminho que alcance um maior nível de consciência. E foi o que vi em Quiterianópolis, um novo caminho.

Quiterianópolis é um pequeno município com pouco mais de
21 mil habitantes, distante mais de 400 km de Fortaleza, na fronteira com o Piauí. De carro, a viagem dura algo em torno de cinco horas. A mata verde da região litorânea dá lugar ao cinza do sertão, dos galhos secos, das queimadas. É a “mata branca”, caatinga em tupi-guarani.

Projeto Ematerce
Por sua vez, além de uma palavra na língua indígena, é o nome de um projeto sócio-ambiental desenvolvido no Ceará e na Bahia. O Mata Branca é um projeto de conservação e gestão sustentável do bioma e da cultura da Caatinga. Ele recebe o apoio do Banco Mundial, que doará dez milhões de dólares para seus sub-projetos (cinco milhões para cada Estado) até 2012. Só no Ceará, são 68 cidades contempladas, seis delas com atuação direta do Mata Branca.
O Projeto Mata Branca (que abrange Ceará e Bahia) concorreu com mais de 100 projetos e vai receber, em cinco anos (2007-2012), dez milhões de dólares, o equivalente a algo em torno de R$ 19 milhões. É um esforço com o objetivo de recuperar a caatinga, bioma único no mundo, correspondente a cerca de 11% do território brasileiro e no qual vivem 70% dos cearenses e 50% dos baianos.
Pois na última quinta-feira, uma missão do Banco Mundial visitou dois sub-projetos do Projeto Mata Branca em Quiterianópolis. Um deles era o Projeto Mandala, na Associação Luar do Sertão.
projeto mandala
Assim como a mística, a mandala sertaneja parte do princípio de irradiação a partir de um ponto central. A unidade primitiva, no caso, é a água (e seus nutrientes), que parte de um reservatório circular e irriga plantações dispostas ao seu redor. Um sistema de cultivo irrigado, conduzido em canteiros circulares formados ao redor da fonte de água.
As mandalas são excelentes soluções para o agricultor do sertão, que tem nelas um sistema bem sucedido de otimização de recursos escassos no semi-árido. São sinônimos de produção eficiente de hortaliças, frutas, grãos, carne, etc.
A antropóloga sênior do Banco Mundial, a norte-americana Judith Lisansky, aprovou o projeto. Ela ressaltou a importância do baixo custo para a manutenção da atividade após 2012, quando acabarão os recursos do Banco Mundial.
De acordo com o presidente da Associação Luar do Sertão, Antônio Luis Mota (popularmente conhecido como Douglas), a produção é destinada para a alimentação familiar e o que sobra alimenta a comunidade. Só se ainda houver excedente é que há o comércio. Ainda assim, cada mandala garante renda de aproximadamente R$ 700,00 por família beneficiada. Mas a meta não é apenas econômica. Como frisa Douglas, “produzir sem destruir a terra, esse é o nosso ponto principal”. Para isso, são usados apenas defensivos agrícolas naturais.
As três mandalas da Associação Luar do Sertão beneficiam oito famílias e fazem parte de um plano de criação de agroflorestas e recuperação de 5 km da mata ciliar do rio Poti, que nasce na Serra da Ibiapaba, nos arredores de Quiterianópolis.
Além do sub-projeto Mandala, o Projeto Mata Branca apóia, em Quiterianópolis, o Pólo Audiovisual da comunidade Santa Rita, que busca preservar e resgatar, através dessa mídia, a cultural local. Em 2010, o município terá outros 10 projetos apoiados pelo Mata Branca, totalizando cerca de R$ 487 mil. Serão beneficiadas 1.083 famílias, em 61 comunidades.
Não existe deserto no Brasil. Ainda
A principal causa apontada pelo Projeto Mata Branca para a degradação dos recursos naturais renováveis da Caatinga é a pressão das ações humanas, com intensidade e frequência superiores à capacidade de regeneração natural. Resultado: mais de 10% do Estado do Ceará se encontra em processo de desertificação, segundo estudos da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).
Mandala do Sertão
Veja como funcionam as mandalas
Vistas de cima, as mandalas saltam aos olhos. Os grandes círculos verdes parecem não pertencer à vegetação cinza da caatinga. Lembram, em forma, aqueles polêmicos círculos desenhados em plantações. Em conceito, remetem ao sistema solar: o tanque de água, no meio (como o sol), irriga as plantações, dispostas em camadas circulares (ou orbitais, como os planetas) ao seu redor.
No tanque são criados peixes, patos, marrecos, etc. Suas fezes, ricas em nitrogênio e potássio, contribuem para fertilizar os canteiros. Nas mangueiras de irrigação, penduradas sobre o tanque por um vértice de madeira, instalam-se lâmpadas para atrair insetos à noite e alimentar os peixes.
O último canteiro, na órbita de fora, é destinado ao controle ambiental do sistema: cerca-vivas ou plantas de porte controlam infestações de insetos e evitam ventos excessivos.
Os cílios do rio
Projetos podem recuperar a mata ciliar do rio Poti
O rio Poti nasce na Serra de Ibiapaba, em Quiterianópolis, e deságua no rio Parnaíba, em Teresina-PI. Banha 23 municípios no Ceará e 24 no Piauí. Para combater o assoreamento próximo à nascente, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão do Ceará (Ematerce) tem feito obras de revitalização do rio, como barragens de sedimentos e paliçadas (mini-barragens). O Projeto Mata Branca tem sub-projetos que preveem a recuperação de 5 km da mata ciliar do rio e criação e agroflorestas no entorno.
Mata ciliar é a vegetação das margens do rio, que o protege do assoreamento. Este, por sua vez, é a obstrução de um estuário, rio ou canal: os processos erosivos desagregam solos e rochas formando sedimentos que são transportados. O depósito destes sedimentos constitui o fenômeno do assoreamento.
As suas principais causas estão relacionadas aos desmatamentos, tanto das matas ciliares quanto das demais coberturas vegetais. É uma das causas de morte de rios, devido à redução de profundidade.

Fonte: http://www.oestadoce.com.br/?acao=noticias&subacao=ler_noticia&cadernoID=18&noticiaID=20524